domingo, 12 de outubro de 2014

Leitura de mundo quando criança


As lembranças de leitura do mundo são resgatadas em minha memória de uma simples brincadeira no quintal de casa, com as panelas e comidinhas feitas com as folhas verdes das arvores, com as flores frescas com gotas de orvalho da noite, com a terra úmida e fresca que sujava os dedos e a roupa, e além das comidinhas o que mais amava fazer era a construção dos meus próprios brinquedos. Não tinha condições para comprar brinquedo naquela época, mas isso não era sinônimo de tristeza, pois toda minha casinha era montada com materiais recicláveis, assim tendo uma ótima organização de tudo, que para os olhos de minha mãe era uma extrema bagunça, mas aos meus olhos era uma festa e uma alegria sem fim, com todas aquelas cores e objetos de formas diferentes, com texturas e flexibilidade para dobrar aqui e ali dos galões de amaciante vazio, com aspereza das caixas de papelão, com o cuidado que tinha que ter com as latas de Nescau vazia para não cortar o meu dedão, entre outros materiais que fazia a minha diversão. Todos os materiais recicláveis da minha garagem eram utilizados em minhas montagens, pelo menos era o que eu pensava. Era uma mistura de brincar de casinha com construir brinquedos, era fita adesiva, cola, tesoura, barbante, fio de arame, caneta, tudo que a imaginação colocasse em função da construção de um objeto ou de um brinquedo, quando eu via não estava mais fazendo materiais da minha casinha, já estava construindo um brinquedo de pé de lata, e fazia aquele barulhão correndo em volta de casa. O mais chato de tudo era quando tinha que guardar os brinquedos e minhas construções, me dava uma tristeza no coração, já que sabia onde estava cada material e cada brinquedo naquele emaranhado de diversão, onde minha mãe sempre achava que tudo aquilo era apenas um  lixão. E as garrafas de vidro, logo enchia cada uma com um tanto de água diferente, montava uma orquestra para um bocado de gente, com um assopro ou uma colher fazia um toque na boca ou na barriga da garrafa, e os sons se misturavam no ar... Não sabia se era dó, ré, mi, fá, sol... Apenas sabia que os toques se misturavam numa dança de sons, assim fazendo imaginar tocando para um publico imenso, um espetáculo de vida cantado para a própria vida, com o cantar dos pássaros, com o barulho dos carros na rua, com o balançar das arvores e com a minha imaginação fluindo naquele lugar. Um dia resolvi brincar bem escondida atrás da casa embaixo da janela da cozinha, esse dia nunca mais esqueci, pois levei um balde de água fria, a autora foi minha mãe, ela estava descongelando a geladeira e sempre jogava o gelo pela janela, pois ninguém passava por lá, mas eu estava lá, no final entendi que de escondido por escondido era sempre melhor fazer os brinquedos em um lugar visível.

 Pensa que minhas invenções foram por água baixo com esse episódio? Que nada, com o tempo sempre fui criando e recriando meus brinquedos, a casa da Barbie, brinquedos feitos para um laboratório da cientista que misturava invenções com flores, frutos, folhas, e por fim fingia que explodia tudo, era invenção que não acabava mais, brincava de casinha, laboratório, escolinha, mercadinho, tudo que era possível construir em um simples quintal com os próprios materiais encontrados e fabricados pela incrível criadora, cientista, professora, vendedora e inventora Ariane.